Seja numa sessão da tarde, telecine ou Netflix, há grandes chances de você já ter assistido ao filme Yes Man, no Brasil traduzido como Sim Senhor. A sinopse é simples, um homem, interpretado por Jim Carrey, após assistir a uma palestra motivacional, decide dizer sim a qualquer tipo de convite, pelo período de um ano. Em tempos de comédias rasas, Sim Senhor garante boas risadas e tem um moral da história bem legal.
Eu andava numa fase meio desmotivada e depois de algumas viagens sozinha, queria muito voltar a viajar com amigos e família. Foi aí que a Tati Tamiosso, que também tem um blog, Assoviando em Aeroportos, me convidou para conhecer o Deserto do Atacama no Chile. Assim como eu, ela também estava acostumada a se aventurar sozinha, e por isso foi bem honesta, buscava uma parceria para além de conhecer o Atacama, entrar na Bolívia e conhecer o Salar de Uyuni. Na minha humilde lista de sonhos de viagem não tinha Bolívia, nem Deserto do Atacama. Mas inspirada por dizer mais sim à vida, dei uma de Jim Carrey e topei, sem saber absolutamente nada sobre os dois destinos. O resultado? Bem parecido como quando se vai ao cinema com expectativa zero.
A Tati cuidou da maioria dos detalhes: pesquisou nossas passagens aéreas até San Pedro de Atacama no Chile, buscou uma pousada para a gente e passou a me enviar links com dicas sobre os dois lugares. Como ela adora fotografia, não tive dificuldades em entender que seria uma viagem onde a natureza é a atração principal. Esqueça as comprinhas, os museus, as praças e os monumentos. Como disse o guia que nos levou até a fronteira Chile-Bolívia, o que irão encontrar? Aventura!
E foi. Começando pela imigração. A pequena casa na divisa adverte: você está entrando num dos países mais pobres da América do Sul. Asfalto? Esquece, o tour é feito em caminhonetes 4×4. Na nossa, um animado casal francês em lua-de-mel, e outras duas francesas viajando juntas. Não funciona celular. Não há cidades pelo caminho. Hospital? Tome muito chá de coca para aguentar a altitude e reze para não passar mal. Conforto? Deixa pra lá. Comida incrível? Quinoa e carne de llama. Se eu voltaria? Com certeza.
Os lugares pelos quais passamos foram incríveis e dificilmente qualquer foto minha faça jus. Passamos por lagoas de cores incríveis: Branca, Colorada (como eu), Verde, Altiplânicas Honda e Canapa; pelos Vulcões Licancabur e Ollague, pelos Desertos de Dalí e de Sioli e o Arbol de Piedras; e por um Geyser onde eu literalmente perdi as botas; além de cruzar com muitas llamas e algumas viscachas. Até chegar ao destino principal, o Salar de Uyuni, o maior do mundo com 10.582 km2. Ufa!
O guia avisou: aventura! No sentindo mais literal da palavra. Tem muito perrengue, ainda mais se você é do tipo fresco, phyno. Os alojamentos se chamam alojamentos exatamente por isso, não são pousadas, muito menos hotéis. A comida é básica, cumpre a função de te alimentar. Você não voltará da Bolívia falando que comeu o melhor arroz com atum e ovo da vida. Em outubro, quando fomos, fazia muito frio ainda. E imagino que seja frio mesmo no verão, devido a altitude. Mas, aventura! Daquelas que te lembram por que foi mesmo que você veio ao mundo? Por que você ama, viajar. Ama aventura!
O tour mais comum é de quatro dias e três pernoites (com retorno a San Pedro). Há opção de tour privativo (que custa uma pequena fortuna) e que desconfio não aumente o conforto. O compartilhado custa infinitamente menos e ambos incluem hospedagem, deslocamento e alimentação. Não é necessário contratar nada antes de chegar a San Pedro do Atacama. Existem várias empresas locais que operam o tour. Você pode visitar todas, comparar preços, etc. Contratamos a Cordillera Traveller e deu tudo certo. A caminhonete era boa e o nosso motorista um legítimo queridão. Como essa trip aconteceu em outubro de 2015, recomendo checar avaliações em sites como o tripadvisor. Na agência vão dar muitas dicas, como levar água, lanches, papel higiênico, o que fazer para aguentar a altitude (numa das noites dormimos a quase cinco mil metros). Como a hospedagem é bem simples, recomendo lenços umedecidos e saco de dormir. E de praxe, uma farmacinha esperta, pois você estará sendo cuidado apenas pelo seu anjo da guarda. Apesar de não ser nada phyna, eu sou um pouco fresca e sobrevivi muito bem aos quatros dias na Bolívia, mesmo tendo perdido as botas.